Claudioantunesboucinha's Blog

A poda nas arvores antigas das ruas de Bagé

Posted in estética das cidades by claudioantunesboucinha on 23 de setembro de 2010

Assistimos perplexos cortes de arvores da cidade de Bagé, especialmente no perímetro urbano. Esse corte de árvores, também foi seguido de suposta poda, supostamente orientada por técnicos da prefeitura. No final, o que assistimos foi um crime perpetrado pelo poder público que fez o que pode e o que não pode com as arvores, uma verdadeira carnavalização ambiental, deboche das questões ambientais, afirmando seu poder autocrático. Não foi mostrado nenhum parecer técnico sobre o desmanche de arvores, até mesmo sobre poda. Não foi mostrado o critério técnico seguido, o embasamento teórico que fundamentasse o que foi feito. Simplesmente agiu-se como um dono, como um patrão, como um senhor, que prende e arrebenta; que faz o que quiser em sua propriedade privada, particular, no seu patrimônio. Como um paxá, o poder público não viu limites em seus atos. Já vimos esse filme, e sabemos seus efeitos danosos. A esquerda, como a direita, abriga seus ditadores.

Não se poda árvore velha, não se podem esperar anos para cortar e depois de muito tempo remover seus galhos, a árvore realmente não pode subsistir. Assim. Tem-se um jardim de árvores mortas[1]. É um erro acreditar que os arbustos e árvores são as criaturas que são criadas como seres humanos; eles têm uma maneira completamente diferente para crescer, e eles têm maneiras completamente diferentes para lidar com ferimentos. No entanto, são seres vivos, tem vida, respiram, tem um ciclo, produz oxigênio, essencial para o ser humano; a Amazônia não é considerada o “pulmão do mundo”, cujas queimadas produzidas pelo ser humano afetam o clima em grande parte do planeta, em distâncias inimagináveis? Toda a poda é uma ação violenta em reservas de energia da planta, e faz-lhes danos e sequelas nos meses e anos vindouros. As plantas não podem recriar o que foi perdido. A melhor alternativa para a poda é o planejamento. Aqueles que plantarem suas árvores em locais onde podem desenvolver-se livremente, a poda não é necessária. [2]. Vamos admitir que, às vezes, uma árvore é tão grande e antiga que é desejável que seja cortada, buscando sua regeneração[3]; mas será que isso foi feito com as árvores das ruas de Bagé, ou ao contrário, foi feito pura e simplesmente sua mutilação total, corte sem critério algum? Cada arvore, em Bagé, é acompanhada em seu crescimento? Lidar com esta tarefa exige um sólido conhecimento dendrológico.

Relato de um viajante alemão, entre 1939-1940 [4], Wolfgang Hoffmann Harnisch, que esteve em Bagé, em conversa com Iwar Beckman (Suécia, 07 de Setembro de 1896/Brasil, 15 de Março de 1971), geneticista sueco radicado no Brasil, da Estação Experimental da Fronteira, em Bagé, sobre a dendrologia[5] local:

Enquanto palestrávamos, retornávamos dos campos experimentais para os jardins. Por detrás duma cerca havia laranjeiras ressequidas. Eis como o Dr. Ivar se expressou: – “Este solo não suporta árvore alguma, pelo menos árvores frutíferas”. – “Estas crescem bem ao primeiro ano, morrendo depois, aos poucos”. -“Mas, felizmente, o fenômeno não é geral, pois, em muitos lugares, mesmo aqui perto, em Rio Negro, há boas terras de campo, onde as árvores frutíferas dão muito bem”. Encarei-o admirado: “Pois é isso mesmo”, continuou ele dizendo, “a certa profundidade, aqui, deparamos com terra argilosa, extremamente dura, e diz-se que as árvores morrem porque suas raízes não podem penetrar suficientemente no solo”. – “Não quero omitir opinião a respeito”. – “É aos dendrólogos que cabe decidir”.[6]

O planejador também tem que resolver a finalidade estética: As plantas agem plasticamente, esculturalmente na paisagem [7]. Por isso, do ponto de vista da estética das cidades, cumprem papel fundamental.

“Las podas de ramas viejas y secas se realizan para prevenir que exista una excesiva cantidad de madera seca que permita una gran combustión en caso de incendio. Son podas de limpieza” [8].

Foi caracterizado risco de incêndio em alguma arvore antiga das ruas de Bagé?

Por outro lado, a retirada de quase todos os ramos, deixando apenas um pequeno número de ramos grandes ou até mesmo apenas o tronco, pode ser muito perigosa para a árvore, pode prejudicar e causar a sua morte [9].

Como as árvores vivem e funcionam? Conectar-se com as árvores, com a natureza e aprender sobre as árvores. Comunicar-se com outras pessoas sobre a importância de se conectar com a natureza. E a necessidade de conhecer os sistemas da árvore, suas partes e seu interior, antes de partir-se para cuidar desses organismos incríveis. É preciso usar linguagem adequada para se comunicar com os outros [10].

Apelidado de “pai da arboricultura moderna”, o Dr. Alex Shigo passou a maior parte de sua vida adulta estudando, ensinando, dissecando e escrever sobre as árvores.

“A árvore é muito mais do que um pedaço de madeira morta”, exclama Shigo. “As árvores estão vivas, que vivem o ano todo, não apenas por um curto período no verão. Eles trabalham durante o inverno também. Muitas pessoas gastam o tempo em que se passa de errado com uma árvore. Eu queria estudar o que dá certo”.

“Eu comecei a ver as árvores de uma maneira diferente, porque uma árvore é uma coisa viva”, explicava Shigo. “Quando você acertar uma coisa viva, ela reage. Quando você bateu em uma árvore, ela faz algo. Quando uma árvore está ameaçada, não fique aí parado. (…)”.

“Árvores geraram seu próprio alimento a partir de dióxido de carbono, luz e água, enquanto os seres humanos ingerem alimentos de outros lugares. Embora suplementos tais como fertilizantes, fornecem elementos importantes, eles não fornecem uma fonte de energia”, diz ele.

Quando os seres humanos colocam pilhas novas em lugares velhos, inúmeras vezes durante a vida, as árvores continuam a colocar as novas células em novos lugares, Shigo explicava. Do mesmo modo, uma árvore não cura, porque não substitui células danificadas por novas.

Em seus livros e palestras, o Dr. Shigo discorda com outras teorias populares sobre árvores. Shigo discordava da ideia de que as árvores são na maioria de madeira morta [11].

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Figura 12. http://haabet.dk/users/willy_f_hansen/12.gif .


[1] http://nl.wikipedia.org/wiki/Snoeien .

[2] http://da.wikipedia.org/wiki/Besk%C3%A6ring_af_planter .

[3] http://haabet.dk/users/willy_f_hansen/229.html .

[4] KESTLER, Izabela Maria Furtado. Exílio e literatura: escritores de fala alemã durante a época do nazismo. Coleção Ensaios De Cultura, nº 22. São Paulo: EdUSP, 2003, p. 107. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=AWYlCG_KTQoC&q=harnis#v=onepage&q=Harnisch&f=false .

[5] Dendrologia: ramo da botânica que estuda as plantas lenhosas, principalmente árvores e arbustos, e as suas madeiras. Centra-se, sobretudo sobre as espécies com importância econômica, classificando-as sob o ponto de vista sistemático e fitogeográfico e do crescimento do tronco e da produção madeireira.

[6] HARNISCH, Wolfgang Hoffmann. O Rio Grande Do Sul, Sua Terra, Sua Gente. (Título da edição original alemã: Rio Grande do Sul: Die Geschichte Einer Reise). 1ª edição. Porto alegre: imprensa oficial, 1940. Porto Alegre: Globo, 1952, p. 174-175. Citado por: http://claudioantunesboucinha.blogspot.com/2010/08/faixa-de-fronteira-estrategias.html .

[7] http://haabet.dk/users/willy_f_hansen/t.html .

[8] http://es.wikipedia.org/wiki/Poda .

[9] http://fr.wikipedia.org/wiki/Taille_(arboriculture) .

[10] Jeff W. Ott. http://www.nharborists.org/id24.html .

[11] http://www.igin.com/article-130-alex-shigo.html .